Friday, June 18, 2010

ESPANTO E SURPRESA

Espanto e Surpresa
Por
Pedro J. Bondaczuk




A capacidade de sentir (e de manifestar) espanto face a
acontecimentos inusitados ou incompreensíveis e, sobretudo, com o
mistério da vida, e surpresa diante de ações e reações (próprias e/ou
alheias) é a principal característica das pessoas “inteligentes” (no
sentido lato da palavra, ou seja, das que entendem, posto que
minimamente, sua condição humana).

Muitos já não a têm. Alguns, nunca a tiveram. É uma lástima! Albert
Einstein escreveu, em seu livro “Como vejo o mundo”, que “se alguém não
conhece esta sensação, ou não pode mais experimentar espanto ou
surpresa, já é um morto-vivo e seus olhos se cegaram”. Exagero do
cientista? Longe disso!

Há quem jamais tenha sequer tentado fazer um exercício mínimo de
racionalidade. Estes jamais se questionaram, por exemplo, sobre o que de
fato são, qual a posição que ocupam na escala animal e que propósito
suas vidas têm. Afinal, queiram ou não, tudo no universo tem algum
motivo e objetivo, mesmo que não tenhamos capacidade de discernir quais
são.

Há quem viva por viver. Estes são incapazes de raciocinar por si sós e
têm que ser “programados” para exercer funções mínimas que os
caracterizem como humanos. Argumenta-se, amiúde, com a falta de
oportunidades dessas pessoas, o que não deixa de ser real. Para pensar,
todavia, sequer é necessária qualquer instrução. Há pessoas analfabetas
que, no entanto, são inteligentíssimas e entendem, mesmo que
intuitivamente, o que muitos doutores, com inúmeros diplomas acadêmicos,
jamais entenderão.

Nosso remoto ancestral, por exemplo, não tinha instrução nenhuma, óbvio.
Não sabia ler e nem escrever, porquanto sequer o primeiro e rústico
alfabeto havia ainda sido inventado. E, no entanto, soube como sair da
caverna primitiva, domar a natureza, adaptar-se às suas forças e leis e
lançar os fundamentos da atual civilização. O homem contemporâneo, com
toda sua empáfia e arrogância, não passa de pigmeu intelectual. Tudo o
que faz e que pensa, não passa, em certa medida, de plágio, posto que
com acréscimos pessoais (pudera!) das obras e pensamentos dos remotos
ancestrais. Só parece gigante por estar nos ombros deles.

Todos somos dotados desse mecanismo fantástico que nos permite, entre
tantas coisas, nos espantarmos e nos surpreendermos. Afinal, todos somos
dotados dessa capacidade que nos distingue não só dos demais animais,
mas de todos os seres vivos: o raciocínio.
Como não se espantar ao contemplar, por exemplo, numa noite de Lua
Cheia, o céu estrelado e ver, até onde nossa vista alcança, milhões,
bilhões, quiçá trilhões de pontos de luz, cada um deles um sol, a
maioria de dimensões até cinco vezes maiores do que o nosso, muitos dos
quais com vários planetas ao redor e (conforme as probabilidades
matemáticas) com cerca de 300 mil com o tamanho e as características da
Terra? São habitados? Por que (tanto faz se a resposta for positiva ou
negativa)? Em caso positivo, por quem? Há vida inteligente alhures?
Onde?

Infelizmente, esse mistério não causa a menor emoção em muitos (diria,
na maioria), que se julgam “realistas”, objetivos (na verdade não passam
do que o jornalista Nelson Rodrigues classificava de “idiotas da
objetividade”). A que realidade eles se referem?

Que realismo é esse em que os que se dizem dotados dele sequer intuem (e
nem mesmo se questionam) “quem” (ou “o que”) são? Em que não os
preocupa saber onde estão? Em que não manifestam a menor curiosidade
sobre para que existem, e para onde vão, ao cabo de parcas dezenas de
anos (se tanto), se é que há algum destino além deste, material?

Einstein concluiu (e por isso também merece a justa classificação de
“gênio”, de um dos raros gigantes da espécie), que essa intensa emoção
causada pelo mistério da vida “é o sentimento que sustenta a beleza e a
verdade, cria a arte e a ciência”. Sem ela, estaríamos, todos, ainda,
nas cavernas primitivas (se não fôssemos, claro, destruídos antes, o que
é mais provável, dada nossa incrível fragilidade física, comparada à
força dos demais animais), desorganizados, nos digladiando por comida,
apavorados com os fenômenos naturais ao nosso redor, sem contar, sequer,
com uma linguagem coerente para nos comunicar, grunhindo como os
símios, com os quais temos algumas semelhanças.

Há tanta coisa que nos causa espanto e é mister que seja assim. Mas
nossa condição humana exige que busquemos entender o que nos espantou,
mesmo que não o consigamos. Temos o instrumental necessário para
procurar esse entendimento. É nossa obrigação fazê-lo, até em respeito à
nossa descendência.

Outrossim, não podemos deixar morrer em nós a capacidade de nos
surpreender, com a beleza, com o horror, com a bondade latente, com a
maldade, com a justiça, com a violência, com o bem e o mal etc. E,
sobretudo, a de nos espantar, sempre, com os inúmeros mistérios que
cercam a vida.

No comments:

Post a Comment